Em um mundo cada vez mais acelerado e exigente, a saúde mental tornou-se um tema central para o bem-estar individual e coletivo. A capacidade de lidar com desafios emocionais, relacionamentos e pressões sociais é fundamental para uma vida equilibrada. Nesse contexto, a psicanálise, especialmente a teoria de Jacques Lacan, oferece ferramentas valiosas para compreender e tratar os conflitos psíquicos. Através de conceitos como o Imaginário, o Simbólico e o Real, Lacan demonstra como a subjetividade é construída e como os distúrbios emocionais podem ser trabalhados em análise. Dessa forma, a psicanálise não apenas auxilia no tratamento de sintomas, mas também possibilita uma reconstrução mais autêntica da identidade.
Segundo Lacan, o sujeito é constituído em três registros: o Imaginário, o Simbólico e o Real. O Imaginário refere-se à formação do “eu” a partir de identificações, como no estádio do espelho, em que a criança se reconhece em uma imagem unificada, ainda que ilusória. No cotidiano, essa ilusão se manifesta quando buscamos corresponder a ideais inatingíveis — como a perfeição profissional ou a felicidade constante propagada nas redes sociais. Quando essa imagem idealizada se rompe, surgem frustrações e crises de identidade, afetando diretamente a saúde mental.
Já o Simbólico representa a ordem da linguagem, das leis e das normas sociais, o “Outro” que estrutura nossos desejos e comportamentos. Muitos sofrimentos psíquicos surgem quando há um conflito entre o que desejamos e o que o Outro espera de nós. Por exemplo, um jovem que segue uma carreira por pressão familiar, mas se sente vazio, está preso a uma demanda simbólica que não corresponde ao seu desejo verdadeiro. Na psicanálise, o trabalho consiste em decifrar essas contradições, permitindo que o sujeito reconheça e ressignifique suas escolhas.
Por fim, o Real é o que escapa à simbolização — traumas, perdas e experiências que não podem ser plenamente integradas ao discurso. Encontrar-se com o Real, como em um luto ou uma grande decepção, pode desencadear ansiedade e depressão. A psicanálise lacaniana não busca eliminar o sofrimento, mas ajudar o sujeito a elaborá-lo, transformando-o em algo que possa ser nomeado e, assim, menos paralisante. Um exemplo prático é o tratamento de um paciente que, após uma demissão, sente-se sem valor. Ao analisar como esse evento rompeu sua identidade (Imaginário) e como o mercado de trabalho impõe certas expectativas (Simbólico), ele pode reconstruir sua autoimagem além desses rótulos sociais.
A saúde mental é um pilar indispensável para uma vida plena, e a psicanálise lacaniana oferece um caminho profundo para seu fortalecimento. Ao explorar os registros do Imaginário, do Simbólico e do Real, Lacan mostra que o sofrimento muitas vezes nasce de desencontros entre o desejo do sujeito e as demandas externas. O tratamento psicanalítico, portanto, não visa apagar as crises, mas dar-lhes sentido, permitindo que o indivíduo se reconheça em sua própria história e reinvente seu lugar no mundo. Dessa forma, investir na saúde mental torna-se não apenas uma necessidade, mas um ato de liberdade — uma maneira de viver com mais autenticidade e resiliência em meio às complexidades da existência.