Sujeito Dividido (barrado)

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20 hours ago

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Photo by Sylvester Sabo on Unsplash

Você já teve a sensação de estar dividido? Como se uma parte sua quisesse muito uma coisa, mas outra parte, quase que automaticamente, fizesse o contrário? Ou talvez você sinta que vive correndo para atender às expectativas dos outros, mas no fim do dia, sente um vazio, como se não estivesse vivendo a sua própria vida.

Se isso soa familiar, você está sentindo na pele o que o psicanalista Jacques Lacan chamou de “sujeito dividido”.

O que é o “Sujeito Dividido”?

Para Lacan, ninguém é 100% “dono de si”. Desde o momento em que nascemos, para sermos aceitos e amados, precisamos aprender a falar, a nos comportar e a desejar de acordo com as regras do mundo ao nosso redor.

Esse “mundo” — com suas regras, linguagem e cultura — é o que chamamos de o grande Outro.

Aqui está o ponto principal: nós não nascemos com um “eu” pronto. Nós construímos quem somos usando as “peças” que o Outro nos dá.

A Invasão do “Outro” no nosso dia a dia

O “Outro” não é uma pessoa, mas sim a estrutura que nos forma. Pense nele como a voz da:

  • Família: Que diz o que é “certo” e “errado”, que tipo de filho você deve ser.
  • Sociedade: Que dita o que é sucesso (ter um bom emprego, casar, ter filhos, mostrar-se feliz nas redes sociais).
  • Trabalho: Que exige produtividade máxima, que você “vista a camisa” e esteja sempre disponível.
  • Amigos: Que, muitas vezes, criam um padrão de comportamento que você se sente pressionado a seguir.

O problema é que, para sermos aceitos por esse Outro, nós nos alienamos. Ou seja, nós adotamos os desejos e as demandas dele como se fossem nossos.

A Cobrança que Nunca Acaba

É aí que a divisão acontece.

Dentro de você, existe uma parte que obedece a essa cobrança incessante. Você escolhe a faculdade que seus pais queriam, aceita aquele emprego que paga bem mas que você odeia, ou diz “sim” para todos os pedidos, mesmo querendo dizer “não”.

Você faz isso porque, no fundo, está buscando o reconhecimento do Outro. Você está tentando ser “completo”, ser o funcionário perfeito, o filho perfeito, o amigo perfeito.

Mas há um custo: você faz isso em detrimento do seu próprio desejo.

Aquela voz baixinha dentro de você, que queria ser artista em vez de advogado, ou que só queria descansar em vez de ir à festa, é o seu desejo sendo sufocado.

Viver para os Outros é Cansativo

O resultado dessa divisão é o sofrimento. Sentimos ansiedade, angústia, cansaço e a sensação de estar vivendo no piloto automático. Estamos alienados de nós mesmos.

Quanto mais tentamos ser o que o Outro espera, mais distantes ficamos de saber o que nós realmente queremos. A cobrança nunca para, porque o Outro (a sociedade, o chefe) nunca está satisfeito. Sempre há uma nova meta, uma nova exigência.

Reconhecer que somos “divididos” não é uma fraqueza; é a realidade de viver em sociedade. A grande questão não é como eliminar o Outro (isso é impossível), mas como encontrar, no meio de todo esse barulho, um espaço para escutar e bancar o nosso próprio desejo.

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