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Photo by Katelyn G on Unsplash

Desde cedo, aprendemos que o mundo parece cobrar mais das mulheres. Elas precisam dar conta de tudo: ser boa profissional, boa mãe, boa parceira, estar sempre disponível emocionalmente e, claro, atender a padrões de beleza. De onde vem essa sensação de que a “jornada feminina” é sempre mais difícil e que o sofrimento é uma companhia constante?

A psicanálise, lá com Freud e seus seguidores, deu uma pista interessante quando falou do Complexo de Édipo.

De forma bem simples, o Édipo é o “drama” infantil que todos passamos para entender quem somos, quem amamos e qual é o nosso lugar na família e na cultura. Só que esse caminho não é igual para meninos e meninas.

O Caminho Reto do Menino

Para o menino, a história é mais direta. Ele ama a mãe, seu primeiro “mundo”. Em certo momento, ele percebe o pai como um rival, mas também como o dono da autoridade. O menino sente medo dessa autoridade (o famoso “medo da castração”) e, por isso, desiste da mãe como “par” e decide se identificar com o pai. O raciocínio é: “Ah, entendi. Para me dar bem, eu tenho que ser como o pai”. Ele ganha um “manual”: um dia, ele terá o poder e a autoridade do pai. O Édipo dele se resolve com uma identidade clara.

O Desvio da Menina

Para a menina, o caminho é um labirinto. Ela também começa amando a mãe. Mas, ao perceber a lógica do mundo, ela nota que nem ela nem a mãe parecem ter a mesma autoridade ou “poder” que o pai.

Aqui começa a complicação:

  1. Ela se decepciona: Ela sente que a mãe “falhou” em lhe dar esse poder.
  2. Ela muda o foco: Ela se vira para o pai. Mas, diferente do menino que quer ser o pai, ela quer ser amada pelo pai.

O Édipo da menina não se resolve com ela pensando “um dia vou ter o poder”. Ele a empurra para um lugar onde ela precisa ser algo para o outro. Ela precisa ser desejável, ser o objeto de amor, ser aquilo que agrada.

Onde o Édipo Encontra a Cobrança Social

É exatamente aí que o “sofrimento” e a “cobrança” social se encaixam.

O mundo e a cultura, que são majoritariamente organizados por essa lógica masculina do “ter” (ter poder, ter sucesso, ter dinheiro), pegam essa estrutura psíquica feminina e a exploram ao máximo.

Como a mulher foi estruturada para “ser” o que agrada ao outro, a sociedade joga sobre ela uma lista infinita de cobranças:

  • Seja bonita: (Para ser desejável).
  • Seja compreensiva: (O “cuidar” do outro).
  • Seja uma mãe perfeita: (A forma máxima de “dar” ao outro).
  • Seja uma profissional excelente: (Mas não “agressiva” como um homem).

O problema é que “ter” algo tem um limite (você tem ou não tem). Mas “ser” é um trabalho que nunca acaba. É uma performance de 24 horas por dia.

O Sofrimento de “Nunca Ser o Bastante”

O sofrimento da mulher vem dessa equação impossível. Ela é cobrada socialmente a ser “Tudo” (a supermulher), mas ela precisa fazer isso a partir de um lugar psíquico que foi fundado na “Falta” (a percepção de que não tinha o “poder”).

Pior: mesmo que ela tente ser “Tudo” o que a sociedade pede, ela intimamente sente que é mais do que isso. Ela tem desejos próprios, uma força que não cabe nessa caixinha apertada de “ser para o outro”.

O “sofrimento” feminino, portanto, não é fraqueza. É a tensão constante de viver em um mundo que exige que ela seja o pilar de tudo, enquanto sua própria identidade foi formada num caminho muito mais complexo e sem um “manual” claro. Ela nunca “resolve” o Édipo de vez, porque a vida continua perguntando a ela, todos os dias: “Ok, mas o que mais você pode ser por nós?”.

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